A Polícia Civil de Catiguá (SP), concluiu o inquérito do assassinato de Suelem Cristina Viveiros, de 33 anos, que foi morta com golpes de machado, em junho desse ano, em um barracão da cidade. Três criminosos foram indiciados por feminicídio, ocultação de cadáver e fraude processual.
Segundo o relatório final da Polícia Civil obtido pela Gazeta, o inquérito policial inicial investigava o desaparecimento de Suelem, comunicado no dia 9 de junho de 2024. Entretanto, no dia 28 de julho, a vítima foi encontrada, pela própria família, morta e enterrada nos fundos de um barracão na Avenida José Zancaner, no bairro São Sebastião.
Durante as investigações, policiais civis indiciaram o ex-marido da vítima, Rodney Aparecido Argentino Júnior, Israel Lima Limeira e o dentista, Francis de Azevedo Vallejo. Eles são apontados por ter matado Suelem mediante paga e/ou promessa de recompensa, por motivo fútil e mediante emboscada; ocultaram o cadáver da vítima e inovaram artificiosamente, no decorrer do processo, com o objetivo de induzir a erro o juiz ou o perito.
De acordo com o relatório das investigações, extratos das ligações recebidas e efetuadas por Suelem Viveiros ao indiciado, Rodney Júnior, no período do desaparecimento dela, foram juntados no inquérito. Dentre essas ligações, a polícia descobriu que Francis Vallejo ligou diversas vezes para Suelem, onde à 01:34:41 do dia 10/06/2024, ela atendeu à ligação, que durou 1 minuto e 50 segundos, em que ela foi atraída para a morte.
Em depoimento, Rodney contou que conviveu em regime de união estável com Suelem pelo período de dois anos, onde tiveram um filho de cinco meses de idade, porém, que fazia oito meses que estavam separados. Para polícia ele confessou que matou a ex-mulher com seis golpes de machado, que atingiram o rosto e a cabeça dela.
Rodney contou que, depois de desferir os golpes em Suelem, olhou em volta e viu, sobre o muro que faz divisa com a casa de Israel Limeira, que Francis estava ali e, possivelmente, Francis tenha presenciado o momento no qual ele desferiu os golpes na cabeça de Suelem. Após isso, Rodney disse que conversou com Francis perguntando se ele estava tranquilo e, depois de ter matado Suelem, Rodney disse para Francis que eles teriam que enterrar o corpo dela nos fundos do barracão onde o crime ocorreu.
Rodney disse ainda que, por volta das 4h, pediu uma calça para Israel para trocar com a sua calça, que estava com manchas de sangue. Depois de ter trocado, ele narrou que jogou a calça em um rio e o machado utilizado para matar Suelem jogou em um canavial, que fica depois do cemitério municipal. Alegou que praticou o crime movido por ciúmes que tinha por Suelem e, arrependido do que fez, queria viver a vida em liberdade.
Em depoimento, Francis Vallejo confessou que é usuário de crack e que conhecia Suelem, que também é usuária de drogas. No dia 8 de junho, por volta das 21h00, ele disse que estava caminhando pela Avenida José Zancaner, quando, próximo de uma farmácia, encontrou Suelem em um carro, onde ambos conversaram, mas que, depois disso, não encontrou mais ela e negou a participação no crime.
Áudios obtidos pela Gazeta revelam que Suelem estava com medo de ser morta por Rodney. Em outra gravação, ele ainda tenta disfarçar o crime para a irmã da vítima.
_“Mas esse jeito teu me traumatiza, me traumatiza. Então eu acho que você vai lá na minha casa querer judiar de mim e bater em mim, aí eu saio correndo. Vou fazer o quê? Vou esperar você chegar para me matar? Sozinha?”, diz Suelem.
_“Você tá metendo o louco no bagulho. Você tá metendo o louco, sua vagabunda. Deixa essa desgraça dessa bermuda aí e vem embora. Sua filha da p**. Você tá metendo o louco só pra sair, desgraçada”, diz Rodney.
Em seguida, para tentar acobertar o crime, Rodney envia um áudio para a irmã da vítima, chorando e querendo que a vida dele volte ao normal com Suelem.
_“Sabe, não sei nem o que falar, sabe? Eu só quero que se resolve tudo, sabe? Que tudo se ajeita, que minha vida volta ao normal, sabe? Sei lá, que ela não quiser ficar comigo, sabe? Que ela vem cuidando bem do nosso filho”, diz Rodney.
O caso foi concluído e agora os três foram indiciados pelos crimes de feminicídio qualificado sob emboscada, motivo fútil e recurso que dificultou a defesa da vítima, além de ocultação de cadáver e fraude processual. Depois disso o caso segue para o Ministério Público, que vai apreciar o caso.
Procurada, a defesa dos indiciados não atendeu nossas ligações para comentar o caso.
A família de Suelem ingressou com uma ação na justiça de responsabilidade civil contra o município de Catiguá, já que o local onde a vítima foi morta é conhecido, há vários anos, como ponto frequentado por traficantes e também usuários de drogas, onde nunca foi interditado ou alguma providência foi tomada pelo poder público. Com isso, visando garantir a efetivação da indenização às vítimas, já que Suelem deixou dois filhos menores de idade, órfãos, os familiares pedem o sequestro do imóvel, onde o crime ocorreu, para garantir a reparação devida.
“O sequestro do imóvel, já que se encontra abandonado e sem função social, possibilita que a reparação às vítimas seja garantida sem onerar os cidadãos deste município. Além disso, o art. 1.228, §4º do Código Civil prevê que a propriedade deve atender à sua função social, e o abandono prolongado constitui motivo suficiente para que o imóvel seja utilizado em favor da sociedade, evitando novos crimes e desastres, sem prejudicar o erário público. Esse procedimento permite que, em situações análogas, bens abandonados possam ser revertidos em favor da sociedade, garantindo que o patrimônio público seja protegido e a justiça reparatória seja cumprida”, diz trecho da ação.
A reportagem não conseguiu contato com a Prefeitura de Catiguá para comentar o assunto.