Educação Nota 10

Professores de Potirendaba (SP) se reinventam em sala de aula para driblar desafios 'pós-pandemia'

autor: Por Gazeta do Interior - Potirendaba

Publicado em

COMPARTILHE!  

Determinação, resiliência e paixão pela profissão são os atributos que movem os professores. Em Potirendaba (SP), os profissionais que atuam nas escolas municipais dedicam horas do dia à partilha de conhecimento. Mas para que o ensino contribua com o desenvolvimento dos alunos, a preparação dos professores começa ainda em casa.

Além do desafio de ser mãe e cuidar da casa, Yuki Montemor Serantola é a responsável pelos alunos das turmas de 2º e 5º ano da EMEF Vitório Botaro.

"Meu dia a dia é muito corrido. Acordo cedo com minhas três filhas e vamos todas à escola. Eu para trabalhar, elas para estudarem. Trabalho, ensino, explico, estudo também, planejo, avalio. E quando é fim de semana eu cuido da casa, da família, mas também dos alunos. O professor está sempre com a cabeça na sala de aula".



Yuki é formada em pedagogia, com pós-graduações em gestão escolar e alfabetização e letramento. O município oferece cursos de aprimoramento, mas ela considera importante que todo profissional busque pelo constante desenvolvimento para encarar os desafios da profissão.

Um deles foi a chegada da pandemia. O período foi considerado desafiador e de adaptação para as escolas, professores e alunos.

“Durante a pandemia, foi ofertado aos alunos aulas remotas com orientações através de vídeos, áudios e textos. Poucos alunos correspondiam de forma adequada, muitos nem viam as mensagens. Atuar na pandemia foi um desafio muito grande, pois mostrou que o professor é um profissional que nunca será substituído por máquinas e vídeos. As crianças precisam explorar possibilidades, explorar o mundo fora da sua casa", afirma Yuki.

Fabiana Carina Pavezzi é professora de ciências para alunos do 6º ao 9º ano de Potirendaba. Mesmo ministrando aulas para turmas de diferentes faixas etárias, ela também considera os últimos três anos desafiadores.

“Os maiores desafios foram a falta de maturidade dos alunos, famílias sem acesso aos recursos tecnológicos e sem condições de ajudar academicamente seus filhos além de problemas de conectividade. Foi necessário evoluir emocionalmente, profissionalmente e tecnologicamente”, diz.



Para as turmas de Fabiana, as aulas eram preparadas e enviadas semanalmente. Além da apostila, o material contava com textos explicativos, vídeos, experimentos de observações e atividades. Depois, os alunos devolviam e tiravam as dúvidas individualmente.

Apesar do material completo, o retorno das atividades dos alunos deixava a desejar. "A presença física do educador, reforça a importância do professor na rotina do aluno, o ambiente personalizado que a escola traz; a dinamicidade das atividades presenciais; e o uso de ferramentas como os laboratórios; entre outros não tem como ser substituído", diz Fabiana.

O retorno para a sala de aula nas escolas municipais de Potirendaba foi gradual e atualmente as adequações continuam ou foram intensificados com esta condição, mas os principais são a defasagem de aprendizagem e desinteresse, segundo a professora.

"O foco é recompor os processos de ensino e acelerar os de aprendizagem, além das questões formais pedagógicas, o fechamento das escolas cobra um alto preço: a saúde mental e socioemocional dos alunos pós-pandemia. Nesse sentido estamos trabalhando estratégias que incluem acolhimento, a empatia, a atenção à qualidade das relações socioemocionais entre alunos e professores, escolas e as famílias", diz a professora

De acordo com a professora Ana Paula Bosque, que atua no 4º ano da EMEF João Casella, a pandemia da Covid-19 “escancarou” os diferentes níveis de aprendizagem.

“Antes tinham alunos mais lentos, mas que conseguiam acompanhar o básico. Com a pandemia surgiu um abismo profundo de conhecimento entre as crianças, por mais que elas tenham acompanhado as aulas à distância”, conta.

“Com a retomada das aulas presenciais, agora ensinamos as crianças com níveis de aprendizagem diferentes daquele material que precisa ser dado. Então se uma criança ainda não lê e nem escreve com autonomia, como ela vai ler um texto e interpretar?”, questiona.

Por isso, Ana Paula optou por personalizar as atividades para os alunos, com o único objetivo de alfabetizá-los para que todos alcancem o mesmo nível de conhecimento.

“Meu dia a dia é de muito desafio e reconstrução. Eu ensino algo e se vejo que não está dando certo, preciso me reconstruir, ensinar de outro jeito. Se não der certo, preciso criar outra maneira, mas preciso que a criança aprenda. Cada criança tem seu ritmo, seu tempo e aprende de um jeito".

A cada aula preparada e concluída, os professores de Potirendaba afirmam que se sentem realizados com a missão de ensinar e educar para que as crianças tracem um futuro de conquistas.

“Me sinto uma super-heroína. Me sinto como se possibilitasse que as pessoas transformem seus destinos. Que as crianças através dos estudos possam traçar histórias de superação, vitórias e conquistas. Não se trata só da questão financeira, mas que meu aluno saiba se impor como ser humano, conquistar o espaço dele na sociedade".